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Quem tem medo do marxismo cultural?

Quem tem medo do marxismo cultural?

25 de março de 2019

O fantasma que alimenta ideologias deturpadas

 

No dia 11 de Março de 2019 o CRC produziu o evento Marxismo Cultural: A realidade entre mitos e teorias, com os convidados David Magalhães, Doutor e professor em Relações Internacionais, e Eduardo Wolf, Doutor e professor em Filosofia, em conversa mediada pela coordenadora do Centro, Coral Michelin. A abordagem do tema pela expertise de Magalhães – relações exteriores – é relevante, no atual contexto brasileiro, justamente pela importância que tal tema assume frente a um novo Governo que toma decisões baseadas em pressupostos ideológicos. Já Wolf contribui com a visão de quem está escrevendo um livro sobre guerras culturais, em que um capítulo inteiro é dedicado ao marxismo cultural. Trazemos aqui os principais pontos discutidos na ocasião.

 

Um fantasma: foi como David Magalhães, primeiro a falar, definiu o marxismo cultural. Ele iniciou sua exposição com um esquema ilustrando o que está acontecendo, hoje, na política externa brasileira, disputada por três grupos que querem determinar a inserção do Brasil no cenário internacional. O primeiro grupo, dos militares, é liderado pelo vice-presidente Raul Mourão; o segundo, de liberais cosmopolitas, é chefiado pelo superministro Paulo Guedes; e o terceiro, fundamentalmente ideológico, é liderado por uma figura que não tem cargo formal no Governo, mas que é altamente influente no Executivo, o autoproclamado filósofo ou “intelectual orgânico da nova direita brasileira”, Olavo de Carvalho.

Interessa mostrar esse panorama tripartido pois o atual Governo brasileiro sofre grande influência desse terceiro grupo, uma vez que o pseudo-filósofo conseguiu nomear, entre outros, o próprio assessor internacional da presidência, um jovem e recém-formado em Relações Internacionais, Filipe Garcia Martins, discípulo de Olavo. É justamente dessa ala – encabeçada formalmente pelo chanceler Ernesto Araújo – que surge, no país, a discussão sobre o marxismo cultural e globalismo.

O professor deixa claro, corroborado por Wolf, de que não existe um conceito acadêmico consagrado sobre marxismo cultural ou globalismo, justamente porque essas teorias não existem na prática. “Na minha área, de relações internacionais, você não vai encontrar um acadêmico sério dedicando a vida, ou uma obra, ou um grupo de estudos pra discutir globalismo ou marxismo cultural”, porém, continua Magalhães, “algumas escolas de análise de política externa que defendem que o elemento psicológico é importante, as crenças são importantes”, o que leva um medo, ou uma mentira, à sua concretização, à realidade. As crenças são importantes pois, por mais que não estejam presentes academicamente, “o delírio, as fantasias, as crenças compõem a visão de mundo do tomador de decisão”.

Os convidados Eduardo Wolf e David Magalhães, com a mediadora Coral Michelin

 

Desde as origens

Assumindo o ponto de vista da narrativa desse grupo ideológico, Magalhães fez então uma breve retomada histórica do aparecimento do conceito, identificando os pensadores marxistas Antonio Gramsci e György Lukács que, junto com Herbert Marcuse, são tidos como as mentes por trás do marxismo cultural. Em sua época, Gramsci e Lukács perceberam que a revolução socialista não se disseminava porque a classe trabalhadora estava embebida dos ideais conservadores da cultura ocidental. Para que a revolução se espalhasse, portanto, era preciso suplantar esses ideais com uma nova cultura; era necessário tomar meios de pensamento antes de se tomar os meios de produção.

Esses pensadores estavam ligados à Escola de Frankfurt, formada prioritariamente por intelectuais judeus que, perseguidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, fugiram para os Estados Unidos. David fez um paralelo entre o marxismo cultural contemporâneo e o bolchevismo cultural do período da Segunda Guerra, explicando que o segundo se tratava de uma “teoria”, defendida por Hitler em um capítulo inteiro de seu livro Mein Kampf. Os nazistas acusavam os judeus de estarem por trás de uma conspiração para destruir a cultura alemã por meio da disseminação do Modernismo, associando toda cultura moderna aos judeus e à destruição alemã.

De acordo com a narrativa ideológica do grupo que acredita no marxismo cultural, a convivência dos pensadores da Escola de Frankfurt com o ensino superior estadunidense fez com que os ideais marxistas se entranhassem ali de tal forma a ponto da Academia norte-americana se voltar para a destruição da “cultura ocidental, cristã, centrada na família, no homem branco, hétero”. A passagem dos anos 1950, marcado pela tradição familiar, para os anos 1960, onde acontece todo um debate sobre a liberação dos costumes, é vista por esse grupo como um indicador dessa absorção ideológica.

Essa ideologia, pontua Magalhães, “logo vai ser incorporada em outras áreas do pensamento – Hollywood – e aí a teoria da conspiração vai se alargando: todos os meios de pensamento são reflexo da Escola de Frankfurt. Olha a força da Escola de Frankfurt”. E é o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho o responsável por trazer ao Brasil, a partir de dois autores norte-americanos, a teoria conspiratória do marxismo cultural.

 

Na cultura, prevaleceu o progresso

“É difícil reconhecer qual o melhor recorte pra analisar isso – e eu vou tentar oferecer para vocês um deles, que começa com uma pequena narrativa mais nossa, mais brasileira, muito mais local”. Assim iniciou sua fala o professor Eduardo Wolf.

Nos anos 1970, o sociólogo e crítico literário de esquerda Roberto Schwarz publica um ensaio, com uma pesquisa em cima do movimento cultural que estava acontecendo no Brasil entre os anos de 1964 e 1969, isto é, nos anos iniciais da Ditadura Militar, até o decreto do AI-5, em dezembro de 1968. O autor constata que, apesar dos pesares, durante esses anos nas artes, na música, na literatura e em outras manifestações culturais e educacionais, prevalece uma visão progressista, de esquerda, embora não hegemônica.

“Esquerda, naquele momento, significa basicamente duas coisas: um sentido muito geral, em que se fala de algum tipo de nacionalismo, algum tipo de desenvolvimentismo econômico e social, uma clara consciência das desigualdades sociais do país e uma necessidade de você enfrentar isso; e um sentido mais específico, que pega um público mais estrito, que era alguma vertente de marxismo”, que era e sempre foi, desde o começo, fragmentado e não coeso, explica Wolf. Ou seja, Schwarz acaba por identificar que, por mais que a direita conservadora tivesse vencido politicamente – houve o golpe –, “culturalmente o país continuava tendo uma brilhante geração de artistas” de esquerda, que deram a tônica do debate cultural e educacional daquela década.

O paralelo que Eduardo traça, a partir da análise de Schwarz, mostra que a Ditadura Militar brasileira, especificamente economicamente falando, “era um regime de modernização internacionalizadora do capitalismo brasileiro – ela queria colocar o capitalismo brasileiro num patamar internacional o mais moderno possível”. Portanto, ela estava alinhada com o capitalismo aberto, liberal e cosmopolita do bloco hegemônico do ocidente, ou seja, com os Estados Unidos. Uma das características desse regime cosmopolita e moderno é transformar tudo, inclusive o comportamento, em mercadoria. Essa característica acabou por gerar, no Brasil, um comportamento um tanto esquizóide, onde a arte, e a cultura em um geral, conseguiu andar com razoável liberdade, até o AI-5.

Embora Schwarz tenha dito que a esquerda não floresceu como ele achava que havia florescido, Wolf aponta não só para a vitória da esquerda – esquerda no seu sentido mais amplo – naquele momento, como também pelas décadas seguintes, até os anos 2000. Daí então que surge a noção de hegemonia da esquerda, ideologia que reinou quase absoluta na produção intelectual, política e cultural da universidade brasileira até recentemente. Porém, tal hegemonia ideológica não é suficiente para que se possa assumir a existência de uma conspiração. A descoberta de Schwarz “é verdadeira para descrever um fenômeno, que se chama hegemonia da esquerda no campo da cultura, da universidade e da vida artística e intelectual”, diz. Tal tendência era prevalecente em diversos países, na Europa, na América do Norte e outros lugares do mundo – o Brasil apenas respondia às tendências intelectuais e culturais do mundo.

Participantes fazem perguntas aos convidados

Wolf explica que não é apenas essa questão, da hegemonia do discurso e da ideologia da esquerda (amplo sentido), a ser atacada pelos “curiosos e clínicos” personagens conspiratórios apontados por Magalhães. Eles, para além disso, fazem uma ligação entre diversos movimentos intelectuais do século XX, como se todos formassem uma única frente de destruição de ideais conservadores, juntando em um único balaio, pensadores, conceitos e ideias que não pertencem aos mesmos universos.

Além disso, tais personagens caricatos chamam de marxistas pensadores que invertem a lógica mais basal do marxismo, que diz respeito à estrutura da sociedade. Enquanto Marx diz que as relações culturais (superestrutura) refletem as relações econômicas (infraestrutura), os “marxistas culturais” dizem que a infraestrutura reflete a superestrutura, ou seja, que a cultura é mais determinante da sociedade que as relações de produção.

Mas, para Eduardo, o pior de tudo não é nem essa inversão da estrutura social de Marx. O pior é constatar que esses “conspiradores” estavam, efetivamente, reagindo a uma grande transformação social, que deu a uma significativa parcela da população, até então excluída, os mesmos direitos que apenas eles, homens, brancos e heterossexuais, possuíam. Foram mulheres, negros e gays a ganharem visibilidade, voz e direitos até então reservados para poucos. Foram eles a encampar pautas sociais, das “minorias”, progressistas, nas universidades.

A direita conservadora, os “paleo-conservadores”, como diz Wolf, “misturam politicamente correto, multiculturalismo, pós-modernismo (…) eles misturam todas essas coisas no saco de gatos do marxismo cultural e dizem que isso tudo é produto da Escola de Frankfurt. O que é integralmente, não é um pouquinho, é integralmente falso, não tem uma vírgula de verdade, de correção, de precisão nessa tese”.

“E é por isso que o marxismo cultural é” – e você não vai encontrar uma vírgula acadêmica séria sobre esse assunto – “apenas uma teoria conspiratória”, concluiu Wolf, de forma forte e enfática.

Para além das exposições individuais iniciais de ambos convidados, tivemos perguntas que geraram mais um bom tempo de debate. Para ouvir na íntegra, acesse o vídeo da transmissão ao vivo no Facebook ou no YouTube.

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